sexta-feira, 9 de outubro de 2009

NÃO; EU NÃO SOU UM PAPEL! E VOCÊ, É? 10/09/2009


“...Que seja infinito enquanto dure!” ou “...Que seja eterno enquanto dure!" BRAVO!


Esta frase, do ilustre poeta Vinícius de Morais, achou um lugar especial nos corações e comportamentos das pessoas.
Principalmente nos dos amantes, que tomaram posse dela para tentar viver a vida de forma mais leve, mais "tranquila", mais intensa, sem maiores “problemas” Uma frase forte e penetrante que marcou e ganhou “adeptos” pelo mundo inteiro! É realmente fenomenal! Mas ao mesmo tempo que ela pode embelezar a harmonia, também pode desafina-la e eis aí o ponto desta questão, : Ela desafina quando incentiva pessoas a viverem de momentos, sem se preocuparem com o depois... que podem marcar toda uma vida!
Há muito tenho detido-me a meditar nessa frase, e as vezes cheguei a deslumbrar-me com ela e até mesmo tentar vive-la. Mas por mais que eu quisesse concordar com ela, algo em mim por ela, era gritante! Mas eu não sabia ao certo o que era. E incomodada com isso, resolvi deter-me ao seu "encanto!"
E então encarando-a de frente, descobrir que ela não era tão deslumbrante assim!
Já pensou ouvir de quem se ama, “que seja eterno enquanto dure!?”

Com certeza, no mínimo provocaria em nós um certo desconforto... uma certa nostalgia, uma sensação de fim antecipado, uma frustração marcada para o amanhã...
Certamente você já vê o fim antes mesmo de começar... É o mesmo que dizer diante de uma mesa farta: Come tudo, porque amanhã não terá mais... Quão bom seria termos a mesa farta todos os dias... não me contento com migalhas...
E quantos têm ouvido e dito isso e achado o máximo! As consequências também são o "máximo!" Basta olharmosa ao nosso redor...
Não consigo viver o momento, o hoje, sem pensar no amanhã!
Por que para mim é dele que o hoje se faz.
Se souber que o amanhã não vai existir, o hoje pra mim já é o amanhã! Porque pra mim o amanhã é uma extensão do hoje.
Não me contento só com o hoje, eu quero repetir!
Viver o hoje sem perspectiva do amanhã é como escutar uma música inacabada, é como ler um poema sem sentido!
Um vazio que nunca se enche...
Se saciar a fome que sinto hoje, amanhã também sentirei fome... a menos que o amanhã não exista mais!
Mas eu vivo pra que ele exista! Porque de mim sou parte do que minhas emoções podem fazer e de mim sou outra parte que faço o que as emoções não podem dizer!
E se elas me dizem que existe o amanhã, então digo que quero estar lá no mesmo lugar... E que não quero pensar só no hoje, pois ele é muito pequeno para conter-me!
Preciso do amanhã para consumar meu desejo eterno, preciso do amanhã para dizer te amo novamente, preciso do amanhã para gozar o hoje no calor do sentir o mesmo gozo amanhã... Preciso do amanhã para amanhecer... Para acordar! Para continuar a viver! Pois parte de mim é canção, parte de mim é razão, parte de mim é saber que hoje construo o que eternizarei amanhã!
E quando digo que o amanhã é uma extensão do hoje, não quero dizer que a preocupação com ele deve nos adoecer, pois basta cada dia a sua porção, seu mal, como sabiamente disse Jesus no sermão do monte.
Mas é fato que tudo que fazemos hoje não é nada mais do que a construção do amanhã. Se estudamos, trabalhamos, compramos... é no amanhã que pensamos!
E porque quando se fala em amar, se fala em momento apenas momento de viver isso apenas no hoje? Que é isso que importa! Por isso tantas doenças emocionais... tantas solidões... tantas frustrações... tantas vidas quebradas!
Se amo e vivo esse momento, quero que ele seja o hoje dos amanhãs que virão!
Por isso discordo quando se diz: “O que importa é o momento!”
- “Que seja eterno enquanto dure!” Essa tem sido a causa de felicidades ilusórias, momentâneas, efêmeras! A qual tem feito estragos irreversíveis muitas vezes! Se é que podemos chamar a isso de felicidade!
Não quero limitar-me há um momento que seja eterno enquanto dure, mas quero um momento que dure porque é eterno!
Não quero um hoje que termine hoje, mas quero um hoje que se eternize no amanhã!
Que seria dos sonhos se não fora a esperança do amanhã?
Se me tiram essa esperança, me tiram a vida, me tiram o porquê lutar!

E se não tenho o porquê lutar, é porque não terei o amanhã!
E se não tenho o amanhã, o que será do hoje, do ontem?
Pois o hoje nada mais é do que o amanhã do ontem.
E o ontem é o hoje do amanhã...
E o amanhã será o hoje sempre!
Não podemos simplesmente separar um do outro. Eles estão interligados numa sintonia tal que se tentarmos separa-los, deixarão de existir e deixando de existir a música passaria de inacabada ao silêncio de nunca ter existido... e eu e você seríamos apenas uma peça de um teatro inacabado...uma obra sem sentido, um papel que escreveu-se uma história e hoje se embolou e jogou no lixo!
Não; eu não sou um papel! E você, é?

Benilda Lopes Rocha



2 comentários:

  1. Não; eu não sou um papel!!!
    Muito bom...
    Nunca tinha refletido sobre essa frase. Nem me passou pela cabeça essa interpretação. Deve ser exatamente o q vc escreveu: "Não quero um hoje que termine hoje, mas quero um hoje que se eternize no amanhã!"
    Parabéns!!! Seus textos e poemas estão cada vez melhores...

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  2. Inegavelmente não queremos ser um amontoada de papel ao vazio. Somos emocionalmente tão rasteiros que os afetos são um dever. Realmente sentimos isso, pensamos isso, temos uma afetividade tão menor. Falamos com gestos, voz, olhar e exalamos químicas. Eu sou dos que acreditam que não há limites para amar, é possível, pelo menos, amar mais, amar melhor, amar com alegria as pessoas que nos amam - E as que amamos.

    Na balança do amor, certamente a alegria de amar pesa mais que todo o resto, abro os olhos para o belo e o positivo ajuda; Reiventar-se é impossível, o contorno dessa imagem no terreno do amor traz a chancela da alma. Entretanto, podemos redefinir os seus limites, nossas asas não são tão precárias que tenhamos que voar junto ao chão. Quem sabe o tempo do qual fugimos, nos aguarda querendo ser colhido pelo futuro.

    Benny vc querida é ímpar neste compasso de poesia, o seu conteúdo de encantamento enriquece nossa alma com uma sutileza de momentos duradouros. Enfim somos melhores do que papel.
    Maciel

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